Belas, inteligentes, fatais. Do caminhar decidido ao olhar ferino, povoam nossa telha e nos convidam a imaginar. Imagenária celebra os 100 anos do mês da mulher apresentando autores que homenagearam o universo feminino com beldades que fazem muito mais do que usar o salto alto e nos tiram o fôlego.

Cinema e quadrinhos foram marcados, no início, como territórios masculinos. Histórias em Quadrinhos norte-americanas dos anos de 1960 como Homem-Aranha e Super-Homem nos trouxeram a clássica figura da moça indefesa, presa dos inimigos do protagonista que se empenha para salvá-la. Essa figura remete a imagem dos contos de fadas, em que a donzela espera pacientemente pelo seu príncipe encantado. Essa figura da donzela e os ícones que a rodeiam representam os clássicos valores de sexualidade, à espera do “homem certo” para a entrega da virgindade, a moça, pura, assiste, como personagem periférico, ao elemento masculino que prova seu valor e direito de conquistá-la.

As revoluções das décadas de 1970 e 80 tiraram a figura da mulher de mera observadora passiva dos acontecimentos para o papel de destaque. Idealizada por homens que buscavam mais do que um motivo para o herói vestir a capa e sair pela cidade, a heroína concentra todas as qualidades de uma mulher moderna, independente, segura, encantadora, letal.

Elektra, a assassina de Frank Miller, pelas mãos do mágico Bill Sienkiewicz

Elektra, Femme Fatale de Frank Miller, ganhou vida pela primeira vez na edição 168 de Daredevil (Demolidor), em janeiro de 1981. Filha de um embaixador grego nos EUA, Elektra Natchios conhece Matt Murdock (o Demolidor) em um rápido encontro quando a moça ainda era uma adolescente. O pai de Elektra é assassinado em um atentado terrorista. Traumatizada, Elektra volta para a Grécia e, depois de um extenço treinamento, retorna para a América como uma ninja assassina. Passa a trabalhar como mercenária, para mafiosos e para o Rei do Crime se tornando vilã de Murdock que, apesar disso, apaixona-se pela moça.

Elektra ganhou uma edição limitada especial, em 8 edições entre agosto de 1986 a março de 1987, escrita por Frank Miller e ilustrada pelo mágico Bill Sienkiewicz em um trabalho autoral se passando depois do retorno da heroína aos EUA, já como ninja mercenária, mas antes de se deparar novamente com Matt Murdock. Em Elektra, Assassina, a moça enfrenta o Tentáculo, uma rede de mafiosos que ameaça a presidência dos EUA.

Elisbeth Salander, a hacker investigadora da Trilogia Millenium. Seus métodos podem ser um tanto quanto ilícitos, mas sem dúvida efetivos, muito efetivos...

Elisbeth Salander, da trilogia Millenium, criação do jornalista Sueco Stieg Larsson lançado no Brasil entre 2008 e 2009, apareceu nas telas pela companhia sueca Yellow Bird e depois em uma versão Hollyoodiana, interpretada por Rooney Mara e dirigida por David Fincher.

 A Trilogia Millenium foca em casos de violência contra mulheres, desde estupro a tráfego humano justamente porque o jornalista presenciou, quando jovem, o estupro de uma jovem de nome Elisbeth resolvendo dedicar sua série Millenium a ela. A hacker investigadora é descrita por Larsson como uma jovem pequena, mirrada e muito inteligente. Sua interação com o repórter investigativo Mikael Blomkvist (Daniel Craig no versão Norte-Americana) gerou umas das químicas mais interessantes do cinema neste ano.

Miho, outra criação do mestre Frank Miller. A japonesa famosa por andar nua e proteger as prostitutas de Basin City, a Cidade do Pecado

Miho, da série Sin City, outra criação de Frank Miller, retrata uma japonesa marcada por andar somente com um sobre-tudo pelo Centro Velho da cidade de Basin, a Cidade do Pecado, local das prostitutas, protegendo as Senhoras das Ruas dos mafiosos e policias corruptos. Miho se apresenta usando duas Katanas (espadas japonesas) e é aparentemente muda. Atuando como uma verdadeira ninja, esgueira-se silenciosamente pelos prédios da cidade e executa seus adversários de forma silenciosa e rápida. O único homem que Miho parece dar ouvidos é o personagem Dwight McCarthy, por este tê-la salvado de gangsters que queriam mata-la. Sin City recebeu uma adaptação para os cinemas, dirigido por Robert Rodrigues, Frank MillerQuentin Tarantino. O papel de Miho ficou para a atriz Devon Aoki.

E como somos um blog brasileiro e muito arretado, não poderíamos deixar de falar de Kátia Maria Faria Lins, a detetive de Belo Horizonte Velta. Criação do paraibano Emir Ribeiro, Velta foi publicado pela primeira vez em 1973 quando o ilustrador tinha 14 anos de idade (!!!) no jornal mural O Comunicador do Colégio Estadual de Jaguaribe. Kátia é uma moça de Belo Horizonte que, após ser usada como cobaia de um alienígena, adquire a habilidade de se transformar em uma loira de 2,20m, atlética, com capacidade de soltar descargas elétricas por qualquer parte do corpo.

O que impressiona em Velta é o forte senso que Emir Ribeiro desenvolve de questões sociais e políticas, transportando toda a atmosfera das histórias em quadrinhos norte americanas (inclusive o traço de Emir Ribeiro, totalmente influenciado pelos quadrinhos estadunidenses) para a realidade nacional, com elementos de nossa política e personagens indígenas por exemplo. Velta aparece como uma heroína, personagem principal de tramas que envolvem lutas, investigações e mistério. É incrível a noção de independência de uma personagem criada por um paraibano na década de 1970! As histórias também são marcadas por um forte erotismo, talvez influência dos seriados policias da época.

Abaixo, uma pequena História e Velta. No pequeno conto, Velta intercepta um homem que roubou uma bolsa de uma Madame da Alta Classe em Belo Horizonte, reparem na conclusão da História.